A leitura move mundos, nos faz viajar e muda vidas.
Pensando nisso surge hoje a coluna AUTORAS EMPODERADAS no Meu caderno de sonhos. Onde uma vez por mês irei falar sobre uma escritora que usa seus livros e sua voz para mudar, sua comunidade, sua cidade e até o mundo.
E para começar escolhi um talento nacional.
Sua trajetória é gigante e não caberia aqui nem em um ano de posts, mas espero que sua essência seja transmitida.
Mel Amaro Duarte, mais conhecida como Mel Duarte de 29 anos é uma poeta, slammer, ativista e produtora cultural nascida em Jabaquara, zona sul de São Paulo.
Apaixonada por arte desde criança se encantou pela poesia aos 8 anos. Aos 18 trabalhando em uma livraria, foi convidada para assistir um sarau, assim virou uma uma frequentadora assídua, construindo uma nova relação com a poesia e influenciando outras jovens negras a ocuparem seu espaço. E o que era hobby virou profissão.
“Entendi então que existiam outras pessoas da quebrada, da mesma realidade que eu. Entendi também que além da importância de escrever, era importante estar ali para ouvir o que outras pessoas tinham escrito”
Faz parte do coletivo "Poetas Ambulantes" - coletivo que leva poesias aos passageiros dos transportes públicos, criado em 2012. Mel também integra o Slam das Minas, uma batalha de poesias.
Em 2016 ela foi destaque no sarau de abertura da FLIP - Feira Literária Internacional de Paraty. Foi a primeira mulher a vencer o Rio Poetry Slam - Campeonato internacional de poesia. Em 2017 foi convidada para representar a literatura brasileira no Festilab Taag em Luanda, Angola.
Em seus poemas Mel aborda temas importantes como machismo, racismo e preconceito no geral.
Tem dois livros publicados, de forma independente "Fragmentos dispersos" em 2013 e "Negra nua crua" em 2016, publicado pela editora Ijumaa e também em forma de áudio livro pela Tocalivros.
Fragmentos dispersos = é um livro de poesias de leitura rápida e prazerosa, com páginas destacáveis e muita arte.
Negra nua crua = é dividido em 3 capítulos que dão titulo ao livro.
Em "Negra", Mel fala sobre questões raciais, o preconceito e a solidão da mulher negra.
" Nua" trata de desejos, prazeres e sensações.
Já em "Crua" a poeta mostra seu lado visceral.
Uma senhora de longe a observa
Desconfiada, a calçada ela atravessa
Preto correndo ela pensa: Não é algo que presta!
(Ampulheta)
-Trecho de Negra nua crua-
“Quando percebi que o que eu falava era algo que libertava e contemplava as pessoas, me deu muita motivação. Hoje, eu sei que tem uma responsabilidade no que eu declamo e escrevo”.
A poesia é sua alma e seu objetivo é dialogar com jovens e fazê-, a perceber que podem ser o que quiserem.
Verdade seja dita
Você que não mova sua pica pra impor respeito a mim.
Seu discurso machista, machuca
E a cada palavra falha
Corta minhas iguais como navalha
NINGUÉM MERECE SER ESTUPRADA!
Violada, violentada
Seja pelo abuso da farda
Ou por trás de uma muralha
Minha vagina não é lixão
Pra dispensar as tuas tralhas
Canalha!
Tanta gente alienada
Que reproduz seu discurso vazio
E não adianta dizer que é só no Brasil
Em todos os lugares do mundo,
Mulheres sofrem com seres sujos
Que utilizam da força quando não só, até em grupos!
Praticando sessões de estupros que ficam sem justiça.
Carniça!
Os teus restos nem pros urubus jogaria
Pq animal é bicho sensível,
E é capaz de dar reboliço num estômago já acostumado com tanto lixo
Até quando teremos que suportar?
Mãos querendo nos apalpar?
Olha bem pra mim? Pareço uma fruta?
Onde na minha cara ta estampado: Me chupa?!
Se seu músculo enrijece quando digo NÃO pra você
Que vá procurar outro lugar onde o possa meter
Filhos dessa pátria ,
Mãe gentil?
Enquanto ainda existirem Bolsonaros
Eu continuo afirmando:
Sou filha da luta, da puta
A mesma que aduba esse solo fértil
A mesma que te pariu!
-Poema verdade seja dita-
Se ainda não conhece o trabalho da poeta, a procure nas redes sociais e veja seus vídeos no YouTube.
Por: A. Serafim
Nenhum comentário:
Postar um comentário